O Ato de Crer e o Ato de Pensar

"Crer é também pensar", resumiu John Stott. Contudo, muitos ainda não compreenderam que os dois devem se unir com o mesmo objetivo da glória do Senhor. Muitos procuram viver a fé cristã, negligenciando a orientação bíblica, as doutrinas do evangelho e os fundamentos teológicos. O importante é sentir algo ou ver o sobrenatural. Por conseguinte, temos testemunhado verdadeiras tolices e bizarrices religiosas, resultado das atitudes infantis e imaturas de crentes sem qualquer sabedoria ou discernimento espiritual. Por outro lado, há aqueles que estudam e pesquisam temas bíblicos, dominam a linguagem teológica, filosófica ou sociológica, mas negam o poder, negam a dimensão espiritual. "Crer é também pensar", insistiu o escritor britânico. Não é apenas crer. Não é apenas pensar. Os que creem e não pensam, vivem dando cabeçada, vivem se precipitando, vivem tomando decisões erradas. Mas, os que pensam e não creem, vivem secos, amargurados e vazios. Nada satisfaz. Nada preenche. E por isso ficam desesperadamente inventando programas, métodos e estratégias que não levam a nada, que não fazem diferença alguma em se tratando do Reino de Deus. Nas últimas décadas temos presenciado cada invenção de "moda" eclesiástica que só leva o cristianismo ao ridículo e até mesmo ao descrédito. É claro que a Igreja permanece, mas por pura graça e misericórdia do Senhor. Se dependesse de nós, a Igreja estaria falida há muito tempo com tanto ativismo carnal. Apesar de tudo, Deus tem manifestado continuamente o Seu amor para a salvação de pecadores. Assim, as portas do inferno não prevalecem contra a Igreja do Senhor. Todavia, isso não significa que temos o direito de abusar da graça. "Crer é também pensar", escreveu o pensador anglicano. No entanto, para pensarmos adequada e corretamente, precisamos primeiro crer. A fé é um dom de Deus, não dos livros, dos tratados ou das enciclopédias. Sim, precisamos ouvir a Palavra, porquanto a fé vem pelo ouvir, e o ouvir a Palavra de Deus, mas a fé não é fruto do nosso raciocínio ou da nossa inteligência, e sim da graça divina. Se invertermos as coisas, acabaremos acreditando naquilo que não se deve. Pois a Palavra de Deus já não será mais suficiente para a nossa prática cristã. Não é por menos que alguns estudiosos "cristãos", que se afastaram da Palavra e não dependem mais do Espírito Santo, negam ou já negaram o nascimento virginal de Cristo, a ressurreição ou a vinda gloriosa de Jesus para arrebatar a Sua Igreja como eventos literais. Parece que para alguns "pensantes" tudo o que é sobrenatural e além das faculdades mentais, trata-se apenas de alegoria. Aí está, pensamento sem fé, pensamento sem humildade para se submeter a Deus, pensamento que nega o poder e a verdade da Palavra de Deus, não passa de aparência intelectual e falsa piedade, pois o "temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução"(Provérbios 1:7). Se queremos de fato viver e praticar o autêntico evangelho de Cristo, precisamos crer. Mas, se queremos uma fé sem desvios, heresias ou hipocrisias, precisamos pensar, avaliar e discernir segundo a mente de Cristo (1 Coríntios 2:16), precisamos aceitar a renovação do nosso entendimento para que venhamos a experimentar "qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:2). Sim, crer é também pensar, mas pensar segundo Cristo, e não segundo a mente carnal do homem natural. Nada deve justificar a preguiça intelectual. Deus nos deu a mente para dela fazermos uso. Por mais bonito que possa parecer, a fé não é um salto no escuro, mas, antes, um mergulho na Luz do Senhor. Que Deus nos ajude a crer e a pensar segundo Jesus Cristo, a Luz do mundo.


Pr. Adriano Xavier Machado