Autêntico Discipulado

Muito se tem escrito e ensinado sobre a importância do discipulado. Já em minha época de seminário ouvia muito sobre o assunto. Claro, não sou tão inocente assim, antes mesmo de minha preparação para o ministério, o tema era ressaltado e já fazia parte da agenda de muitas discussões missiológicas e teológicas. O tema, portanto, não é novo. Mas, será que a Igreja atual está entendendo mesmo o significado e as implicações do discipulado?

Tenho visto e tido acesso a muita literatura de capacitação cristã. Já há mais de duas décadas que tenho trabalhado com estudos bíblicos nos lares. E sempre tenho procurado levar não apenas informações bíblicas, mas, um desafio de vida comprometido com o Senhor e Salvador Jesus Cristo. Entendo que todo cristão tem que ser confrontado para uma mudança constante de vida, e, assim, aproximar-se mais e mais no objetivo proposto pelo evangelho. Ao me referir assim, é exatamente nesse ponto que vejo a deficiência de algumas iniciativas em prol do discipulado.

Antes de prosseguirmos, preciso dizer que o assunto que está sendo tratado aqui, merece cuidado e atenção, foco e reflexão, porquanto, diz respeito à saúde espiritual do Corpo de Cristo, isto é, a Igreja do Senhor que se encontra no mundo para percorrer o caminho da santidade, "sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hebreus 12.14). O discipulado existe como um mecanismo de capacitação e orientação, para os crentes em Jesus viverem de modo íntegro e pleno os projetos do Reino.

No entanto, algumas iniciativas não passam de um conjunto de conceitos, ideias e elaborações intelectuais. Sem dúvida, os conceitos são necessários, todavia, o autêntico discipulado não se resume nem se limita a isso. Tomando Jesus como exemplo, Ele ensinava e pregava a respeito do Reino, mas Ele permitia, facilitava e até encorajava os discípulos a um caminhar junto a Ele: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me" (Marcos 8.34).

O autêntico discipulado não tem apenas o objetivo de encher a mente do discípulo com informações bíblicas. O autêntico discipulado trabalha na direção da transformação do caráter do discípulo à semelhança de Jesus. Não adianta uma pessoa ser capaz de responder todas as questões bíblicas e teológicas, e, não, conseguir viver e testemunhar do evangelho de Cristo. "Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas" (1 Pedro 2.21).

Acredito que precisamos renovar esse entendimento e compromisso com o discipulado cristão. Vivemos em uma sociedade que valoriza muito o conhecimento. Inclusive, a nossa época é reconhecida como a "era da informação", termo cunhado, ao que me parece por Peter Drucker. Pode até ser que para algumas esferas da sociedade a exigência seja mesmo a capacidade de dominar o conhecimento, todavia, no Reino, o que importa mesmo é a capacidade de praticar e viver o que se sabe, praticar e viver o que se aprende aos pés de Jesus.

No Reino não há valor algum as explanações sem as demonstrações de vida. O que adianta alguém conseguir decorar todos os nomes dos livros da Bíblia, ser um especialista em citações bíblicas, conseguir explicar os textos mais complexos das Escrituras e não conhecer o Autor da Bíblia? De que vale a nossa capacidade intelectual e não termos relacionamento algum com o Senhor da glória?

 O autêntico discipulado é, portanto, todo esforço que valoriza o caminhar íntimo e pessoal com Jesus Cristo. E para isso, requer-se do discípulo renúncia e comprometimento, requer-se um preço, ou seja, o carregar a cruz. Discipulado não é apenas oferecer algo, mas principalmente esperar do discípulo uma posição em que dê preferência e prioridade ao Reino. Jesus resumiu isso muito bem quando disse: "Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará" (Lucas 9.24).

A Igreja tem a incumbência da evangelização. O evangelho tem que ser pregado em testemunho a todos os povos, nações e tribos. Mas, a missão da Igreja não fica completa sem o discipulado. É preciso ensinar a guardar, isto é, a praticar e viver todas as coisas que o Senhor tem mandado. Façamos, portanto, do discipulado um desafio de transformação contínua de cada discípulo de Jesus, e, não, meramente um depósito de informação sem vida, sem a graça e o poder do Espírito Santo de Deus. Para o autêntico discipulado, só tem valor o conhecimento que é demonstrado em vida para a glória de Deus.

Pr. Adriano Xavier Machado


Resolvendo Conflitos

Quer no lar, na igreja, no trabalho ou em qualquer outro lugar, onde há pessoas que se relacionam, os conflitos aparecem. Em Atos dos Apóstolos vemos que "houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano" (6.1). No mesmo livro sagrado também vemos uma contenda entre Paulo e Barnabé, "que se apartaram um do outro" (15.39). Bem, com tais exemplos, fica evidente que os conflitos fazem parte das relações humanas. No entanto, precisamos reconhecer que podemos tomar alguns procedimentos que podem resolver ou pelo menos amenizar os conflitos. Vejamos quais são esses procedimentos:

1. Não ignorar o problema. Se há alguma coisa errada, não devemos fazer de conta que tudo está bem. Tapar os olhos diante do perigo, não livrará ninguém das trágicas consequências. Portanto, não adianta esconder a cabeça no buraco.

2. Não fomentar a crise. Conversas desnecessárias, com certeza, irão piorar a situação. Quanto mais lenha na fogueira, mais fogo se terá. Igualmente, quanto mais combustível no conflito, mais longe ele vai.

3. Saber dialogar. Aqui se exige sabedoria, discernimento e vigilância nas palavras. Tudo que vem em tom de julgamento e acusação enfraquece o diálogo. E sem diálogo, não se resolve nada.

4. Assumir atitude de servo. Nada piora mais o conflito do que o orgulho, a petulância e a arrogância. Quem deseja se colocar mais do que o outro, demonstra que não tem nada de bom no coração e nas intenções.

5. Considerar o exemplo de Cristo. Jesus foi manso e humilde, mas também firme e corajoso. Quem não deve, não teme.

6. Não recorrer à mentira. Já sabemos que o diabo é o pai da mentira. Portanto, esse recurso nunca de fato nos ajudará em nada. Como diz o ditado popular: "a mentira tem perna curta". Quem mente não terá a confiança de ninguém.

7. Ter paciência. Muitas vezes o conflito não se resolve no primeiro momento do diálogo. Às vezes, exige tempo, tempo para a poeira baixar, tempo para se respirar ar fresco.

8. Buscar orientação. Não é ficar de fofoca, é buscar sábios conselhos com pessoas maduras, inteligentes e experientes. Mas por favor, não é com todas as pessoas sábias, inteligentes e maduras, pois aí, corre-se o risco de ser maledicente.

9. Saber ouvir. O problema geral do ser humano é querer sempre falar e fazer com que a sua fala prevaleça, nem que seja no grito e na ignorância. Quem sabe realmente ouvir, saberá falar o suficiente e com toda lucidez.

10. Amar sempre. Resolvendo ou não o conflito, o nosso compromisso é com o amor. Nada de mágoas, ofensas, rancor ou ódio. "Só o amor é capaz de unir os corações. Só o amor pode tudo. Só o amor faz a gente, faz a gente ser feliz. Só o amor nos faz olhar pra frente".

O conflito traz desgaste e muita confusão. Mas, em Cristo Jesus e sob a luz de Sua santa Palavra, podemos buscar e ter um encontro com a paz, a justiça, a santidade e o amor
. "Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas  dentre vós. Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo" (Efésios 4.31,32). Que Deus nos abençoe. Amém.

Pr. Adriano Xavier Machado