A Humanidade do Pastor

Por mais que seja óbvio, nunca é demais lembrar que o pastor é um ser humano. Isso significa que o pastor tem sentimentos, fraquezas, necessidades, sonhos e fracassos como qualquer outro. O pastor, a priori, não é nem melhor nem pior do que ninguém, mas, simplesmente humano. A ideia equivocada da superioridade do pastor tem conduzido muitos a uma certa frustração diante da evidência de sua humanidade. Quando o pastor cansa, geme e chora, na maioria dos casos a igreja não sabe lidar com isso, às vezes nem mesmo colegas de ministério, pois o estereótipo em geral que se forma de alguém que se encontra no exercício pastoral é de uma pessoa que sempre tem que estar disposta, sorrindo e servindo com todo vigor, tal qual uma máquina a vapor que, não diminui o ritmo durante a sua jornada. Mas o pastor não é uma máquina de operações e atuações e celebrações. O pastor é carne, osso e sangue. O pastor está sujeito a enfermidades como qualquer outro. Está sujeito a acidentes como qualquer pessoa. Tem lutas espirituais como qualquer outro crente.  O pastor não é um super-herói que não se fere, que não se machuca ou que não derrama lágrimas. O pastor, embora escolhido e capacitado por Deus para a obra do Reino, continua com sua humanidade.

Quando lemos a Bíblia podemos conferir a história de muitas pessoas que foram usadas poderosamente por Deus. Pessoas que fizeram grandes coisas para Deus, mas que evidenciaram sua humanidade. Assim, encontramos o profeta Elias com medo escondido em uma caverna, o rei Davi em prantos por seus tropeços e pecados e o profeta Jonas que foi usado grandemente no avivamento de Nínive com suas lamentações, frustrações e preconceitos. Creia, de uma certa forma ou de outra, cada pastor tem também momentos que revelam a sua humanidade, isto é, a sua fragilidade e necessidade. O que está sendo ressaltado aqui não tem nada a ver com uma vida dominada pelo pecado, mesmo porque a obra de Jesus é completa na purificação e libertação do poder do pecado, mas, sim, com a pura realidade da humanidade do pastor. Cada pastor é gente como a gente. Gente que sente e que se ressente. Gente que se alegra e que se entristece. O pastor é "homem sujeito às mesmas paixões que nós". Eu sei que na verdade nenhum ministro do evangelho gosta de ser assim tão transparente. Mas é com esse reconhecimento que o pastor pode experimentar o milagre de Deus, e, assim, fazer a diferença. O que sustenta a vida e o ministério de um pastor é puramente a graça e a misericórdia do Senhor. E o pastor que consegue entender isso, tem muito mais chance de superar as suas limitações e glorificar o nome de Cristo Jesus com tudo o que é e com tudo o que faz. Como afirmou o pastor Solomca "você nunca será uma pessoa forte na vida sem reconhecer a realidade de suas fraquezas" (SOLOMCA, Pedro, Para Quem Passa Correndo, Abba Press Editora, 2010, p. 53).


O missionário Paulo fez a seguinte confissão: "Porque quando estou fraco então sou forte" (II Coríntios 12:10). Ele assim diz reconhecendo que a graça de Jesus era o bastante em sua vida. Em outras palavras, Paulo não necessitava encontrar em si mesmo mérito algum para provar o quanto era bom a fim de ser salvo, mas apenas depender e confiar na obra do Calvário. Igualmente, o que parece ser a derrota de um pastor é na verdade a sua vitória. É na sua humanidade que o pastor conhece a habilidade e suficiência da graça divina. Portanto, o pastor não tem nenhum motivo para se orgulhar em façanhas ou virtudes próprias. O poder de Jesus se aperfeiçoa na vida do pastor exatamente na sua humanidade, ou seja, na sua fraqueza. Quanto mais o pastor consegue estar consciente disso, mais ele poderá conhecer o extraordinário poder de Deus. Assim sendo querido pastor, não queira ser um herói, seja simplesmente humano. Não tenha medo de reconhecer e confessar os seus receios, as suas angústias, as suas preocupações, as suas fragilidades, os seus erros e pecados ou as suas dores e tristezas. A vitória de um pastor acontece tão somente pela graça do Senhor.

Por outro lado a Igreja pode muito colaborar com o ministério do pastor. Como? Não projetando ou exigindo algo que ele não pode ser, ou seja, uma entidade supranatural. Sim, eu sei que o pastor deve ser de Deus, tendo uma vida exemplar e cheia do Espírito Santo, todavia, querendo ou não o pastor enquanto estiver aqui na terra continuará tendo que lidar com sua humanidade. Quando a Igreja tem essa percepção, sem dúvida, estará orando mais pelo pastor, sendo mais paciente e misericordiosa com o seu lado humano e estando mais atenta para com suas necessidades físicas, psicológicas e materiais. O pastor é cidadão do Céu, pelo menos deve ser, caso contrário nunca será um verdadeiro pastor. Contudo, mesmo sendo um cidadão do Céu, o pastor enquanto não se encontra diante do Senhor face a face, continua sendo gente, continua sendo humano, continua tendo que lidar com sua humanidade. E a Igreja precisa saber e lembrar disso para oferecer o devido apoio ao ministro de Deus. Espero que com este artigo você pastor em sua humanidade possa depender mais de Deus. E que a Igreja aprenda amar mais o lado humano do pastor. Aqui quem escreve é também um ministro do evangelho tão humano quanto você. Um obreiro que prossegue "para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus".

Pr. Adriano Xavier Machado