Todos gostam, em certo sentido, percebendo isso ou não, de reconhecer algum herói. Isso se repete não apenas com a criança, mas também com o adulto. Obviamente que o tipo de herói da criança é muito diferente quando comparado com o do adulto. O dela tem capa, máscara e poderes sobrenaturais. O dele é de carne, osso e sangue. O dela se encontra nas revistas em quadrinhos, nos desenhos animados e filmes cinematográficos. O dele é bem visível, palpável e demonstra alguma superação, conquista ou habilidade incomum entre os mortais. Sem medo de errar, podemos dizer que isso é um fenômeno sociológico. Em qualquer cultura, povo ou nação há heróis retratados, reconhecidos e admirados. Os heróis da mitologia grega, por exemplo, oferecem-nos uma indicação disso.
Todavia, no cristianismo também encontramos muitos heróis. Quem nunca ouviu falar dos heróis da fé? Em Hebreus 11 encontramos uma lista desses heróis que se tornaram exemplos para nós. Atente, porém, que heróis estão sempre surgindo, estão sempre aparecendo. Temos os famosos heróis missionários tais como Guilherme Carey, David Livingstone e Hudson Taylor. Em resumo, estamos sempre reconhecendo heróis que nos servem de referência, que de algum modo nos motivam e nos inspiram. Sinceramente não vejo problema algum termos como espelho pessoas que se destacam e apresentam algum brilho. Afinal, quem nunca ficou encantado com a história e o exemplo de um homem ou uma mulher que, demonstrou superação, coragem e uma lição de vida? Paulo mesmo chegou a fazer o seguinte convite: "Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós" (Filipenses 3:17). Todavia, tenho visto um grande problema ainda persistindo nos dias de hoje, o que expressa uma atitude doentia e perversa, isto é, o culto à personalidade.
O culto à personalidade é uma forma de propaganda para a exaltação de um dirigente, líder, autoridade ou celebridade. É efetivado através de uma estratégia de marketing que objetiva a manipulação psicológica de um grupo de pessoas ou mesmo de um povo. Estratégia essa que foi usada por Josef Stalin na antiga União Soviética, Hitler na Alemanha e Mao Tsé-Tung na China. Enquanto o herói é reconhecido por seus atos de bravura, inteligência e serviço, no culto à personalidade o ídolo é produzido com cartazes, filmes, panfletagens, fotografias, discursos e artigos sensacionalistas. O culto à personalidade tem o intuito de "vender" uma imagem. Sua ação é abusiva e exploratória. Enquanto no herói percebemos facilmente a sua humanidade, no ídolo construído pela propaganda temos uma imensa dificuldade, pois parece deus, um mito que nunca pode errar. O ídolo pode falar a maior bobagem, ser um verdadeiro corrupto e até cometer atrocidades, mas ele continua tendo a admiração do povo que está sendo seduzido pelo culto à personalidade. É triste dizer, mas isso não acontece apenas no espaço político, mas também no religioso. Portanto, a Igreja contemporânea deve ficar atenta, não permitindo ser influenciada nem enganada por esse tipo de recurso que não glorifica o nome do Senhor.
Certamente devemos reconhecer os nossos heróis, homens e mulheres que se doam, que se consagram pelo bem do próximo e que acima de tudo procuram viver e demonstrar o amor de Jesus Cristo. Mas devemos também ter cuidado para não sermos presas dos marqueteiros da fé, os que promovem um tipo de culto para benefício próprio. Jesus disse que "pelos seus frutos os conhecereis". Dentre as muitas abordagens possíveis, podemos destacar que os marqueteiros religiosos querem aparecer, mas os verdadeiros heróis do Reino compreendem que é "necessário que ele cresça", que o nosso Senhor esteja em evidência (João 3:30). Os marqueteiros vivem para si mesmos, buscando o enriquecimento, fama e poder, mas os heróis da fé vivem para o Senhor: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim" (Gálatas 2:20). Os marqueteiros desejam conforto e facilidade, amam o palco e as luzes dos grandes eventos, mas os homens e mulheres de Deus que merecem o nosso respeito assumem como modelo o exemplo do Mestre: "Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos" (Marcos 10:45). Os marqueteiros apontam para as suas obras e realizações, porém os heróis do evangelho apontam para Jesus: "Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" (João 14:6).
Pr. Adriano Xavier Machado