Recordar e Viver

Lá estão as imagens. Guardadas em um canto qualquer da memória. São de um tempo e tempos que já não existem mais. Estradas, casas, pessoas, conversas, praças, lojas, carros e tantas outras coisas e situações. Momentos que marcaram a vida. Situações que forjaram o nosso caráter. Lugares e contextos que nos fizeram sorrir, amar e sonhar. Ainda me recordo quando assistia desenhos animados como Speed Racer e o seriado Os Batutinhas. Ah, adorava a Escola Bíblica de Férias. Foi em um trabalho como esse que aprendi a história de uma missionária que quando criança queria tanto ter olhos azuis. Fiquei admirado, fascinado e encantado ao aprender que Deus me fez como sou com um grande propósito. O encantamento foi tanto que ao retornar para minha casa confessei: se um dia tiver de servir a Deus, serei missionário. Chegou a época da adolescência e continuei a viver, continuei a me surpreender com as descobertas e possibilidades da vida.  Hum, falar da minha adolescência não é muito fácil, não por causa das "aborrecências" e peraltices, mas na verdade porque foi muito intensa, rica e colorida. Falar de tudo o que conheci, aprendi e vi, dá "pano pra manga". No entanto, as imagens, as figuras e os sons ainda florescem em minha mente como se fosse ontem... "Não esqueça da minha Caloi", "Roda, roda, roda baleiro, atenção, quando o baleiro parar põe a mão. Pegue a bala mais gostosa do planeta...","Rádio Relógio Federal, ZYJ465, onda média, 586 metros, frequência de 580khz ... Você sabia?" etc.

Recordações. Penso que todos nós precisamos delas. Elas nos ajudam a lembrar que temos uma história, uma referência, um norte, um começo ou recomeço diante dos tropeços, falhas ou desilusões. Sim, há lembranças tristes, coisas que nos fizeram chorar ou que nos roubaram o sono. Contudo, podemos decidir pelo melhor. Podemos reviver os melhores momentos, os melhores lugares, as melhores músicas, os melhores contos e as melhores amizades. Não precisamos ficar revivendo decepções, ressuscitando desavenças ou renovando sentimentos amargos e melancólicos. Não devemos recordar para sofrer, mas sim para viver com esperança e fé. A vida é muito maior do que os momentos de lágrimas, do que as épocas escuras e sombrias. A vida é rica e transbordante da graça divina. "Ele cobre o céu de nuvens, que prepara a chuva para a terra, e que faz produzir erva sobre os montes" (Salmos 147.8). "Lançou os fundamentos da terra, para que não vacile em tempo algum" (Salmos 104.5). "Desde a antiguidade fundaste a terra; e os céus são obras das tuas mãos" (Salmos 102.25). "Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas" (Salmos 104.24). Mas, será que estamos conseguindo ver o que Deus tem feito a nosso favor? Temos conseguido enxergar as maravilhas do Senhor? Ou estamos acorrentados ao passado de injustiças, mentiras, indiferenças, perseguições e pecados? De fato recordar é viver. Mas também pode ser uma experiência espinhosa, sufocante e até mesmo doentia. Tudo depende do que pensamos. Tudo depende do que meditamos. O nosso lema deveria ser como a do profeta Jeremias: "Todavia, lembro-me também do que pode me dar esperança” (Lamentações 3:21_BLH).

Amados, todos nós temos momentos difíceis na vida. Nem tudo é como queremos, pensamos ou sonhamos. Mas, o Senhor é suficiente. Ele sempre tem revelado a Sua graça e misericórdia. Ele tem nos ajudado em momentos de dificuldades. Ele tem nos conduzido em momentos de dúvidas, medos ou receios. Basta pararmos um pouco e recordarmos o que Ele tem feito por nós no decorrer de nossa história. Ele tem sido verdadeiramente fiel. Em nenhum momento Ele tem falhado. Portanto, em momentos de ruínas, destroços, lágrimas, decepções e tristezas, deveríamos lembrar o que Jesus disse ao apóstolo Paulo: "A minha graça te basta" (2 Coríntios 12:9). Sim, em momentos de tribulação, deveríamos pensar e meditar naquilo que pode nos encorajar, animar e acreditar na vitória do Senhor em nossas vidas. Entendo, que há mais razões para pensarmos naquilo que possa nos trazer esperança do que o próprio profeta Jeremias. Afinal, em sua época Jesus ainda não tinha vindo ao mundo. Porém, o Verbo já se fez carne e habitou entre nós, cumprindo o plano divino da redenção pela Cruz. Há algo que tem nos faltado? Podemos não ter tudo o que queremos, pensamos ou sonhamos, mas Jesus é tudo em nossas vidas. Será que conseguimos enxergar isso quando tudo parece desmoronar? Quanto a mim, já aprendi como diz certo cântico: "Tantas lutas, tantas dores/Num deserto pareço estar/Mas te entrego os meus temores/Sei que em Ti, Senhor, posso confiar/Quero trazer à memória aquilo que me dá esperança". Assim, termino com uma passagem bíblica: "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Salmos 30.5).

Pr. Adriano Xavier Machado