Teologia da Saúde e Teologia da Cruz


Quando lemos os evangelhos, ficamos maravilhados quando Jesus demonstrava sua autoridade quer seja sobre a natureza, os espíritos demoníacos e ainda sobre toda espécie de enfermidade. Jesus curou leprosos, deu visão aos cegos e fez com que paralíticos andassem. Não precisamos ter nenhuma dúvida quanto ao ministério de cura de Jesus.  No entanto, muitos acabam confundindo as coisas. Assim, temos em voga a Teologia da Saúde que afirma que o crente não fica doente ou que Deus irá curar toda doença ao que responde com fé. Será assim mesmo? O que a Bíblia tem a nos ensinar? 

Um texto muito usado pelos "evangelistas" da saúde é o de Isaías 53.4: "Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si". Em nenhum momento questionamos o ensino da Palavra de Deus. Mas, será que estamos compreendendo mesmo o que o texto está dizendo? Será que a Bíblia está dizendo que Jesus irá curar as enfermidades de todos os crentes? O que o profeta registrou, certamente se confirmou. Jesus operou sinais e maravilhas durante o Seu ministério terreno. Não significa que Ele tenha curado a todos de sua época. No evangelho de Marcos encontramos uma indicação disso: "E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades " (1.34). O texto fala de muitos e não de todos. O que queremos dizer é que Jesus cura, mas não significa que Ele irá curar a todos.

Passeando um pouco pelo Novo Testamento encontramos Epafrodito, a quem o apóstolo Paulo reconheceu:"irmão e cooperador, e companheiro nos combates" (Filipenses 2.25). A esse mesmo servo de Deus, Paulo testificou:  "E de fato esteve doente, e quase à morte" (Filipenses 2.27). Epafrodito ficou doente mesmo sendo cristão, mas segundo o propósito divino Ele foi depois curado. Passeando mais um pouco pelo Novo Testamento encontramos Timóteo, a quem o apóstolo Paulo recomendou para que bebesse um pouco de vinho por causa de seu estômago e de suas "frequentes enfermidades" (1 Timóteo 5.23). Já de Timóteo não se fala de cura, mas sim de tratamento e cuidados com a saúde, pois constantemente ficava debilitado fisicamente. Se continuarmos com esse passeio, logo encontraremos Trófimo, companheiro do apóstolo Paulo, que se encontrava "doente em Mileto" (2 Timóteo 4.20).  Ah, podemos citar mais um exemplo. O próprio apóstolo Paulo: "Embora a minha doença lhes tenha sido uma provação, vocês não me trataram com desprezo ou desdém; pelo contrário, receberam-me como se eu fosse um anjo de Deus, como próprio Cristo Jesus" (Gálatas 4.14 - NVI). Se o cristão não pode ficar doente, como então explicar tais passagens?

Quando pensamos na Teologia da Cruz, entendemos que Jesus levou sobre si todos os nossos pecados. Isso não significa que não iremos deixar de pecar, pelo menos enquanto não tivermos um corpo glorificado. O pecado habita em nós (Romanos 7.17, 20). Contudo, o pecado não tem mais domínio sobre o nosso viver (Romanos 6.14). Fomos verdadeiramente libertos (João 8.36). Se os "evangelistas" da saúde usassem o mesmo princípio de interpretação, então ficaria mais ou menos assim: na Cruz Jesus leva sobre si todos os nossos pecados e maldições, mas não significa que não iremos pecar mais, como também não significa que nunca mais ficaremos doentes. No entanto, está garantido. Um dia teremos um novo corpo, sem pecado, sem maldição ou enfermidade. Então, por fim, seremos semelhantes a Jesus. Veremos que nesse dia "não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas" (Apocalipse 21.4).

Pr. Adriano Xavier Machado

Espiritualidade e Intelectualidade


No meio cristão, ainda muitos pensam que há uma dualidade incompatível entre o espírito e a mente. Imaginam, ainda que subjetivamente, que todo o investimento no espírito é bom, mas que o uso da mente é algo que corrompe a fé. Quantas vezes já ouvimos: "a letra mata". Ouvimos isso de pessoas que não entenderam o sentido e o contexto bíblico e que tentam justificar o afastamento do raciocínio, acreditando que assim poderão crescer mais espiritualmente. Então, tudo o que diz respeito à intelectualidade é negligenciado. Todavia, quando nos reportamos para a Palavra de Deus, podemos perceber que uma coisa não deve eximir a outra. Jesus falando sobre o resumo da Lei, indicou que devemos amar a Deus tanto com a nossa alma quanto com o nosso entendimento. Em outros termos, o uso do raciocínio também é exigido. Por que é assim? Porque Deus nos criou como seres capazes de usar a imaginação, o pensamento e a criatividade. Não somos como um computador que apenas recebe e repassa informações, sem de fato interpretar, analisar, considerar ou entender. O computador pode até estar correto em tudo o que nos informa, mas a inteligência não é dele mesmo, mas do homem que o formatou e projetou. Não somos máquinas. Não somos robôs. Somos seres criados à imagem e semelhança de Deus. Quem apenas reproduz informações sem pensar, está desprezando a capacidade e o dom que Deus lhe deu. O apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, desafiou-o: "Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino" (1 Timóteo 4.16). O cuidado era com a sua vida e com a doutrina do evangelho. Timóteo não deveria ser imprudente com sua maneira de viver nem com a razão de sua fé. Pois de outro modo seria uma presa fácil do engano, da mentira e das heresias. Portanto, cresçamos na fé e na graça de Cristo Jesus para que tenhamos uma vida segundo a vontade de Deus, mas também, tenhamos ousadia para fazermos uso do pensamento, da mente, aprendendo sempre a verdadeira doutrina do evangelho, pois só assim poderemos conhecer e praticar o culto racional (Romanos 12.1). Espiritualidade e intelectualidade podem perfeitamente caminhar de mãos dadas para a glória do Senhor.

Pr. Adriano Xavier Machado

Escolhido Sim! Capacitado Sim!

Dou início a esta reflexão com temor e misericórdia. Mas penso que seja necessária. Cada vez mais estou convencido de que para servir ao Senhor, não basta coração, é preciso estar preparado. Sei que muitas pessoas não gostam de ouvir esse discurso, principalmente aqueles que adoram repetir: "Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos". Sinceramente, esse pensamento é muito mal compreendido. Ser escolhido por Deus é uma coisa. Para ser escolhido não precisa ser capacitado, mas para fazer a obra do Senhor é preciso mesmo de capacitação. Os apóstolos tiveram três anos de preparação com o próprio Senhor Jesus e só então receberam o mandamento: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16.15). Assim, podemos perceber que não basta ser escolhido, é preciso ser capacitado.

Infelizmente, muitos que desejam servir ao Senhor, acabam fazendo estragos nas igrejas e às vezes até em comunidades inteiras. A Igreja de Jerusalém, segundo o livro de Atos, caía na graça do povo (Atos 2.47). A ação do Espírito Santo era tão poderosa, o compromisso com a doutrina dos apóstolos era tão intensa e a comunhão tão evidente que, toda a comunidade não cristã ficava maravilhada, impactada. Mas alguns ministérios nos dias de hoje, por onde passam, não deixam um bom testemunho do evangelho de Cristo.Em vez de graça, o rastro é de desgraça. Não digo que haja má fé em muitos desses obreiros e ministérios. Em muitos casos é falta de um devido preparo para o serviço do Senhor. O pior é que depois vem as perseguições, os problemas, as críticas e situações contrárias, e o diabo é quem leva a culpa.

Ah, Jesus tenha misericórdia do Seu povo. Ilumine o nosso entendimento com a Sua Palavra. Dai-nos verdadeiro discernimento espiritual. Capacita-nos com o Espírito Santo para fazermos a Sua obra segundo a Sua vontade. Livra-nos de toda preguiça mental. Que possamos ter sabedoria dos altos céus. Que possamos compreender que maldito é aquele que faz a obra do Senhor relaxadamente (Jeremias 48.10). Que possamos fazer a obra com amor e compromisso. Em nome de Jesus, amém. Escolhido sim, mas, também capacitado.

Pr. Adriano Xavier Machado