Materialismo e Espiritualidade


Um jornalista perguntou a uma certa mulher o que a deixava feliz. Ela respondeu: "Comprar roupa. Comprar muita roupa e sapato". Pode parecer exagero, mas estou cada vez mais convencido de que o materialismo é de fato o deus deste século. O deus que gera disputas, cega o entendimento e acorrenta a alma de muitos. Em geral as pessoas não se contentam mais com o necessário nem se satisfazem com o essencial. Estão sempre querendo mais e mais e não conseguem apreciar a beleza e a simplicidade da vida. Tal como vítimas da areia movediça, assim muitos estão sendo engolidos pelo materialismo, pelo amor ao dinheiro e pelas riquezas deste mundo. Praticamente muitos não apreciam mais a orientação bíblica: "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes" (I Timóteo 6:8). Nada é tão ignorado nos púlpitos ultimamente quanto o ensino de Jesus: "Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?" (Mateus 6:25). Por isso temos visto uma geração doente por enriquecimento. Uma sociedade que vende a alma pelo brilho da prata e do ouro. Igrejas que repetem sempre o mesmo discurso de prosperidade e não há espaço nem interesse para a Cruz nem para a volta de Jesus. Há pessoas tão materialistas que só falam de casa, roupa, carro, joias, perfumes e comprar e comprar e comprar. Compram e nunca ficam satisfeitas. Compram e nunca têm tempo para as coisas de Deus. Compram e não investem na vida espiritual. Obviamente não sou adepto da "teologia" da mendicância. Não há problema algum ser rico, ter um excelente salário ou uma atraente conta bancária . "O dinheiro é como o camaleão", afirmou Loren Cunningham, "assume a cor do coração de quem o possui". Mas viver uma correria desenfreada para "ter" a custa do "ser" não dá mesmo. Trabalhar para viver é uma coisa, porém viver para trabalhar é algemar a própria existência. Fazer compras é necessário, todavia fazer das compras a principal motivação psicológica é pura loucura. Deixar de atender ao chamado divino por causa do conforto ou segurança material é simplesmente tolice. Não é por menos que o jovem rico retirou-se triste diante do desafio radical de Jesus. Pois como disse Schopenhauer a "riqueza é como água salgada: quanto mais se bebe, mais sede se tem". E a Bíblia diz: "Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (I Timóteo 6:10). Veja que certas pessoas não saem dos shoppings, mas dificilmente comparecem aos cultos da igreja. Há outras que negam o dízimo, mas adoram gastar dinheiro nas lojas e comércios. Há aquelas que entendem tudo de carros, perfumes e grifes e não entendem nada de Bíblia. Penso que precisamos aprender a nos confrontar com o ensinamento de Jesus: "Nenhum servo pode servir dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar ao outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Lucas 16:13). Sejamos honestos: a quem estamos servindo? O que tem enchido os nossos olhos? O que ocupa os nossos pensamentos? Onde se encontra o desejo do nosso coração? "Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração" (Lucas 12:34). Portanto, que o Senhor seja tudo em nossas vidas. Que o Senhor seja o nosso verdadeiro tesouro.

Pr. Adriano Xavier Machado

Lembranças e Esperanças


Agora é apenas mais uma estrada. Uma estrada que nos faz reviver tempos, histórias e lembranças. Sim, ainda há o seu encanto. Podemos ouvir o canto dos pássaros e apreciar os extensos campos verdejantes. Mas praticamente todos os homens e mulheres da roça se foram. Pais e filhos agricultores se mudaram para as cidades, buscando novas oportunidades, sonhando com outras possibilidades. A sensação é estranha, diferente e até um tanto perturbadora. Quanto a mim, parece que ainda posso ver as vacas sendo ordenhadas, a terra sendo arada, os galos e galinhas ciscando o chão... hum, cheirinho de comida, de café e bolo do interior, mas tudo passou. Ficaram apenas as recordações de um tempo que se findou. As casas estão abandonadas. Portas e janelas quebradas. Não há sorrisos, cantos nem o chorinho da viola. Quando criança era ali que eu gostava de passar as minhas férias. Titia no final do dia reunia os filhos e sobrinhos e lia a Bíblia e pedia para que cantássemos um hino. Naquele tempo, naquela região e naquela casa não tinha luz elétrica. O companheiro da noite era mesmo o lampião e as sombras nas paredes da casa. E como mágica, tudo aquilo me fascinava, tudo aquilo me encantava. Contudo, não adianta mais querer buscar algo que já passou. Agora a vida é outra. Há novos desafios e perspectivas. Porém, essas coisas me fazem meditar e lembrar: tudo passa, tudo acaba, tudo tem o seu fim, mas o que faz a vontade do Senhor permanece para sempre. Aleluia, pois estou, você está, estamos todos de passagem. Este mundo não é o nosso lugar. A nossa cidade está no Céu, onde "há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito: vou preparar-vos lugar. E se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também" (João 14:2,3). A promessa de Jesus é a nossa esperança.

Pr. Adriano Xavier Machado