O Evangelho e a Cultura
Todo comportamento é adquirido socialmente. O que envolve observação, imitação e repetição. Ninguém nasce com um padrão de comportamento já definido biologicamente. Franz Boas em "Antropologia Cultural" assegura: "qualquer tentativa de explicar as formas culturais numa base puramente biológica está fadada ao fracasso". (1) Por exemplo, temos na culinária brasileira um grupo de pessoas que come feijão preto e outro que come feijão branco. Geralmente quem foi ensinado a comer feijão preto sempre vai almoçar ou jantar com o feijão preto. Por outro lado, provavelmente quem foi habituado a comer feijão branco não dispensará do seu cardápio o feijão branco. Por que isso? Isso acontece por causa de um fenômeno cultural que indica tanto objetiva quanto subjetivamente que determinado tipo de alimento deve fazer parte de nossas refeições. A atitude se repete culturalmente, e, não, por causa da genética, biologia ou geografia. Dependendo da influência cultural que envolve uma pessoa, o que não pode faltar na hora da refeição é o macarrão ou a mandioca ou o peixe etc. (2) Logo, fica visível que muito do que pensamos e fazemos é apenas uma reprodução daquilo que nos é ensinado socialmente dentro de um contexto cultural específico. Roque de Barros Laraia em "Cultura: um conceito antropológico" explica com uma visão antropológica: "O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam". (3) Mas o que isso tem a ver com o cristianismo? Por que esse assunto deve despertar o nosso interesse?
O tema proposto é importante para nos ajudar a distinguir o que é o evangelho e o que são elementos culturais. Para começarmos a caminhada nessa direção, destacamos que o evangelho vem de Cristo Jesus, a cultura vem de um determinado grupo social. O evangelho é do Céu, a cultura é da terra. O evangelho é o mesmo em todo lugar, a cultura é diversificada. O evangelho é eterno e imutável, a cultura pode ser modificada com o tempo ou ainda mesmo morrer com a extinção de um determinado povo. O evangelho produz vida espiritual, a cultura simplesmente faz parte da vida humana. O evangelho pode influenciar uma cultura, mas a cultura jamais deve influenciar o evangelho. Jesus no seu tempo viveu como um judeu, não como um grego, romano ou chinês. Ele se fez carne e cresceu segundo os costumes do seu povo. Usou a mesma vestimenta, aprendeu a mesma língua, teve a mesma pele, enfim, viveu como um judeu. No entanto, sendo Ele próprio o evangelho encarnado, não ficou amarrado ou sufocado por sua cultura. Ele viveu a cultura judaica até o ponto de não prejudicar a sua missão, o seu caráter e a sua intimidade com o Pai. É isso que precisamos aprender nos dias de hoje. Howard A. Snyder comenta: "A Bíblia apresenta a Igreja no meio da cultura, lutando para ser fiel, mas algumas vezes corrompida por alianças, contrárias à sua natureza, com o paganismo e o legalismo judaico. Na Bíblia o lado terreno e o lado celeste da Igreja se encaixam perfeitamente dentro de um todo e não nos deixam com duas igrejas incompatíveis ou com uma ideia da Igreja dividida em dois níveis diferentes". (4)
A Igreja luta para ser fiel, mas, às vezes, é corrompida pela cultura. Por isso temos visto em igrejas manifestações culturais sendo consideradas como algo integrante ao evangelho de Cristo, corrompendo, assim, o próprio evangelho de Cristo. Tais manifestações culturais, muitas vezes, originam-se no próprio grupo eclesiástico ou denominação religiosa. O bater palmas, por exemplo, trata-se do evangelho ou de uma questão cultural? Os instrumentos que são usados dentro de uma igreja local dizem respeito ao evangelho ou a uma cultura própria de uma determinada região, povo ou nação? Pense nos diversos grupos étnicos espalhados na terra e tente responder por você mesmo essas perguntas. Decerto, em alguns lugares o bater palmas durante um culto não seria muito bem aceito. Por outro lado, em alguns lugares seria a coisa mais certa a fazer. Com relação aos instrumentos, então, teríamos inúmeras considerações, devido a diversidade de instrumentos musicais dos muitos povos. Nessa variedade de expressões artísticas e musicais quem estaria certo? Aqui vale lembrarmos o que o escritor francês Michel Eyquem de Montaigne afirmou: "cada qual considera bárbaro o que não se pratica na sua terra." Parafraseando o pensador francês, cada crente acha estranho o que não se pratica em sua própria igreja ou denominação religiosa. Por isso há muita intolerância no ambiente eclesiástico. Quem não pensa igual é descartado. Quem não presta culto com um mesmo modelo litúrgico é desprezado. Isso vem se repetindo constantemente, pois na prática ainda não aprendemos o que disse Michel de Montaigne: "A qualidade mais universal é a diversidade."
Obviamente que uma prática ou um costume contrário ao ensino do evangelho tem que ser rejeitado. O evangelho não aceita a prostituição cultual, a poligamia, a adoração de ídolos, o suicídio ritual, o infanticídio de gêmeos e todas as práticas culturais que entram em choque com a vontade de Deus. No entanto, precisamos estar cientes que há certos valores culturais que não ferem os princípios do evangelho, que não prejudicam a nossa espiritualidade e que não fazem nenhuma diferença em relação ao Reino. Por conseguinte, não precisamos criar barreiras para a comunhão cristã com esses grupos diferentes, muitas vezes até mesmo de uma mesma denominação religiosa. Para estarmos unidos não precisamos ser iguais. Alguém já disse que "unidade não é uniformidade". Aliás, a própria unidade se explica com a diversidade. Apesar de sermos muitos, em Cristo somos um em propósito, fé, amor e santidade. Em Cristo as diferenças se completam. Em meio a uma grande diversidade de valores litúrgicos, religiosos e eclesiásticos, o que não pode faltar é o evangelho puro, a fé em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador, pois Ele é o caminho, a verdade e a vida. O evangelho tem uma ênfase universal, porquanto a sua mensagem é para o mundo todo. O que se aplica para um se aplica para todos. Mas os elementos culturais não possuem uma dimensão assim tão abrangente. Logo, devemos ter cuidado para não adulterarmos o evangelho de Cristo com os nossos valores sociais e culturais, por acreditar que todos precisam aceitar esses valores tão particulares e específicos de cada grupo, de cada comunidade, de cada povo e nação. A Igreja do Novo Testamento lidou com essa questão quando junto com o evangelho desejou levar também os costumes judaicos. Alguns acreditavam que os gentios deveriam ser cristãos judaizantes. Será que nos dias de hoje não estamos pensando em evangelismo e missões no sentido de termos cristãos que estejam de acordo com os nossos valores culturais? Lembro-me de ter visto em um noticiário de televisão a respeito de um trabalho missionário que era realizado numa tribo indígena em que os obreiros levaram para os novos crentes o paletó e a gravata. Será que os índios se tornaram mais crentes por causa da inserção do paletó e gravata em suas práticas religiosas? E nós? O que estamos levando para as pessoas? Temos levado o evangelho de Cristo ou a nossa cultura? Só o evangelho de Jesus Cristo salva. Os nossos conceitos, hábitos ou costumes não transformam a vida das pessoas para a vida eterna com Deus. O mundo precisa do evangelho eterno. A cultura pode passar, mas o evangelho é sempre o mesmo. Como disse John R. W. Stott: " O evangelho não mudou com o passar dos séculos. Seja pregado a jovens ou a velhos, no Leste ou no Oeste, a judeus ou a gentios, a pessoas cultas ou a ignorantes, a cientistas ou a leigos, embora a sua apresentação possa mudar, a substância continua a mesma". (5) Que possamos ser sustentados e orientados por essa substância transformadora, isto é, o evangelho de Cristo.
Pr. Adriano Xavier Machado
(1) BOAS, Frans, Antropologia Cultural, tradução Celso Castro, 5ª edição, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. p. 60.
(2) "Os 'hábitos alimentares' estão entre os elementos mais significativos na constituição de uma cultura". [DIAS, Reinado, Introdução à Sociologia, São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005, p. 53]
(3) LARAIA, Roque de Barros, Cultura, um conceito antropológico, 23ª edição, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009, p.45.
(4)WINTER, D. Ralph & HAWTHORNE, Steven C., Missões Transculturais _ Uma perspectiva bíblica, tradução de Carlos Siepierski e Márcio Loureiro Redondo, São Paulo: Mundo Cristão, 1987, p. 141.
(5) Stott, John R. W., A Mensagem de Gálatas, tadução de Yolanda Mirdsa Krievin, São Paulo: ABU Editora, 1989, p. 47.
O tema proposto é importante para nos ajudar a distinguir o que é o evangelho e o que são elementos culturais. Para começarmos a caminhada nessa direção, destacamos que o evangelho vem de Cristo Jesus, a cultura vem de um determinado grupo social. O evangelho é do Céu, a cultura é da terra. O evangelho é o mesmo em todo lugar, a cultura é diversificada. O evangelho é eterno e imutável, a cultura pode ser modificada com o tempo ou ainda mesmo morrer com a extinção de um determinado povo. O evangelho produz vida espiritual, a cultura simplesmente faz parte da vida humana. O evangelho pode influenciar uma cultura, mas a cultura jamais deve influenciar o evangelho. Jesus no seu tempo viveu como um judeu, não como um grego, romano ou chinês. Ele se fez carne e cresceu segundo os costumes do seu povo. Usou a mesma vestimenta, aprendeu a mesma língua, teve a mesma pele, enfim, viveu como um judeu. No entanto, sendo Ele próprio o evangelho encarnado, não ficou amarrado ou sufocado por sua cultura. Ele viveu a cultura judaica até o ponto de não prejudicar a sua missão, o seu caráter e a sua intimidade com o Pai. É isso que precisamos aprender nos dias de hoje. Howard A. Snyder comenta: "A Bíblia apresenta a Igreja no meio da cultura, lutando para ser fiel, mas algumas vezes corrompida por alianças, contrárias à sua natureza, com o paganismo e o legalismo judaico. Na Bíblia o lado terreno e o lado celeste da Igreja se encaixam perfeitamente dentro de um todo e não nos deixam com duas igrejas incompatíveis ou com uma ideia da Igreja dividida em dois níveis diferentes". (4)
A Igreja luta para ser fiel, mas, às vezes, é corrompida pela cultura. Por isso temos visto em igrejas manifestações culturais sendo consideradas como algo integrante ao evangelho de Cristo, corrompendo, assim, o próprio evangelho de Cristo. Tais manifestações culturais, muitas vezes, originam-se no próprio grupo eclesiástico ou denominação religiosa. O bater palmas, por exemplo, trata-se do evangelho ou de uma questão cultural? Os instrumentos que são usados dentro de uma igreja local dizem respeito ao evangelho ou a uma cultura própria de uma determinada região, povo ou nação? Pense nos diversos grupos étnicos espalhados na terra e tente responder por você mesmo essas perguntas. Decerto, em alguns lugares o bater palmas durante um culto não seria muito bem aceito. Por outro lado, em alguns lugares seria a coisa mais certa a fazer. Com relação aos instrumentos, então, teríamos inúmeras considerações, devido a diversidade de instrumentos musicais dos muitos povos. Nessa variedade de expressões artísticas e musicais quem estaria certo? Aqui vale lembrarmos o que o escritor francês Michel Eyquem de Montaigne afirmou: "cada qual considera bárbaro o que não se pratica na sua terra." Parafraseando o pensador francês, cada crente acha estranho o que não se pratica em sua própria igreja ou denominação religiosa. Por isso há muita intolerância no ambiente eclesiástico. Quem não pensa igual é descartado. Quem não presta culto com um mesmo modelo litúrgico é desprezado. Isso vem se repetindo constantemente, pois na prática ainda não aprendemos o que disse Michel de Montaigne: "A qualidade mais universal é a diversidade."
Obviamente que uma prática ou um costume contrário ao ensino do evangelho tem que ser rejeitado. O evangelho não aceita a prostituição cultual, a poligamia, a adoração de ídolos, o suicídio ritual, o infanticídio de gêmeos e todas as práticas culturais que entram em choque com a vontade de Deus. No entanto, precisamos estar cientes que há certos valores culturais que não ferem os princípios do evangelho, que não prejudicam a nossa espiritualidade e que não fazem nenhuma diferença em relação ao Reino. Por conseguinte, não precisamos criar barreiras para a comunhão cristã com esses grupos diferentes, muitas vezes até mesmo de uma mesma denominação religiosa. Para estarmos unidos não precisamos ser iguais. Alguém já disse que "unidade não é uniformidade". Aliás, a própria unidade se explica com a diversidade. Apesar de sermos muitos, em Cristo somos um em propósito, fé, amor e santidade. Em Cristo as diferenças se completam. Em meio a uma grande diversidade de valores litúrgicos, religiosos e eclesiásticos, o que não pode faltar é o evangelho puro, a fé em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador, pois Ele é o caminho, a verdade e a vida. O evangelho tem uma ênfase universal, porquanto a sua mensagem é para o mundo todo. O que se aplica para um se aplica para todos. Mas os elementos culturais não possuem uma dimensão assim tão abrangente. Logo, devemos ter cuidado para não adulterarmos o evangelho de Cristo com os nossos valores sociais e culturais, por acreditar que todos precisam aceitar esses valores tão particulares e específicos de cada grupo, de cada comunidade, de cada povo e nação. A Igreja do Novo Testamento lidou com essa questão quando junto com o evangelho desejou levar também os costumes judaicos. Alguns acreditavam que os gentios deveriam ser cristãos judaizantes. Será que nos dias de hoje não estamos pensando em evangelismo e missões no sentido de termos cristãos que estejam de acordo com os nossos valores culturais? Lembro-me de ter visto em um noticiário de televisão a respeito de um trabalho missionário que era realizado numa tribo indígena em que os obreiros levaram para os novos crentes o paletó e a gravata. Será que os índios se tornaram mais crentes por causa da inserção do paletó e gravata em suas práticas religiosas? E nós? O que estamos levando para as pessoas? Temos levado o evangelho de Cristo ou a nossa cultura? Só o evangelho de Jesus Cristo salva. Os nossos conceitos, hábitos ou costumes não transformam a vida das pessoas para a vida eterna com Deus. O mundo precisa do evangelho eterno. A cultura pode passar, mas o evangelho é sempre o mesmo. Como disse John R. W. Stott: " O evangelho não mudou com o passar dos séculos. Seja pregado a jovens ou a velhos, no Leste ou no Oeste, a judeus ou a gentios, a pessoas cultas ou a ignorantes, a cientistas ou a leigos, embora a sua apresentação possa mudar, a substância continua a mesma". (5) Que possamos ser sustentados e orientados por essa substância transformadora, isto é, o evangelho de Cristo.
Pr. Adriano Xavier Machado
(1) BOAS, Frans, Antropologia Cultural, tradução Celso Castro, 5ª edição, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. p. 60.
(2) "Os 'hábitos alimentares' estão entre os elementos mais significativos na constituição de uma cultura". [DIAS, Reinado, Introdução à Sociologia, São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005, p. 53]
(3) LARAIA, Roque de Barros, Cultura, um conceito antropológico, 23ª edição, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009, p.45.
(4)WINTER, D. Ralph & HAWTHORNE, Steven C., Missões Transculturais _ Uma perspectiva bíblica, tradução de Carlos Siepierski e Márcio Loureiro Redondo, São Paulo: Mundo Cristão, 1987, p. 141.
(5) Stott, John R. W., A Mensagem de Gálatas, tadução de Yolanda Mirdsa Krievin, São Paulo: ABU Editora, 1989, p. 47.
Lançamento do Livro em Seara
Na noite do dia 15 de maio de 2010 foi o lançamento do meu livro em Seara, SC: Conquistando as alturas com Deus. O Jornal FolhaSete esteve presente dando cobertura:
Conquista está nas alturas
O sábado, 15, foi especial para a comunidade de Seara, que teve a oportunidade de conhecer mais um escritor que nasce aqui, um filho adotivo do município que presenteia à cidade com um belíssimo trabalho: “Conquistando as alturas com Deus”, obra do Pastor da Igreja Batista, Adriano Xavier Machado. O livro tem conquistado leitores de diferentes regiões.
O lançamento com noite de autógrafos aconteceu a partir das 19h30, no Auditório Municipal João Furlanetto. Em entrevista ao FolhaSete, o escritor destacou que o livro representa uma conquista. “Por ter sido um longo sonho, que gerou muita expectativa, exigiu dedicação, trabalho e contatos com editoras. Também o incentivo dos amigos, das pessoas que leram no primeiro momento o original, que me encorajaram. Desta forma, entendo que não é uma conquista pessoal, mas de pessoas amigas que estiveram diretamente envolvidas com esse projeto”.
O propósito do trabalho, segundo o pastor Adriano, não foi meramente ver o projeto no papel. “O objetivo é compartilhar algo que possa gerar esperança, levar uma mensagem que possa, de fato, produzir fé nos corações, porque a gente sabe que muitas pessoas estão desanimadas, com sentimento de fracasso, derrota, e são tantas as dificuldades, lutas e desafios da vida. A palavra crise significa oportunidade. Então, entendo que, com toda a crise que há no mundo, no Brasil, crises psicológicas, econômicas, espirituais, seja o que for, creio que é uma oportunidade e procuro ver com esses olhos para estar apontando para o caminho, para uma luz, para motivar, elevar a fé das pessoas”.
Assinar:
Postagens (Atom)